Olhar
Observar as coisas que não se movem
Ouvir somente o silêncio
Que, aparentemente inócuo, fere.
O tudo ao meu redor, que parece inerte.
Sem sentido, sem vida, como antigas fotografias
Já amareladas pelo tempo e que tudo que trazem consigo
É a mais cortante nostalgia-
A ausência.
Olhar
Saber que o tempo passa e tudo permanece igual
Estático, fosco, fatigante, normal
Que não provoca reações
Que não diz nada
Que não tem significado
Que não se pode ouvir, tocar ou sentir
Que somente se permite...
Olhar.
Como se o olhar pudesse cumprir a função
Dos meus demais sentidos, que adormecem
Enquanto somente me restam:
O frio
O fastio
O vazio
Mas as pontas dos dedos, embora gélidas,
Conseguem ainda e com algum esforço,
suprir com palavras o que a voz cala:
Da não-resposta
Da falta
Da lacuna
Da saudade
Do não-sentido
Da escuridão
Da solidão-
Destes que, na noite vazia,
Ironicamente se tornam
minhas únicas companhias.