sexta-feira, 16 de julho de 2010

E o que me resta,


Olhar
Observar as coisas que não se movem
Ouvir somente o silêncio
Que, aparentemente inócuo, fere.
O tudo ao meu redor, que parece inerte.
Sem sentido, sem vida, como antigas fotografias
Já amareladas pelo tempo e que tudo que trazem consigo
É a mais cortante nostalgia-
A ausência.
Olhar
Saber que o tempo passa e tudo permanece igual
Estático, fosco, fatigante, normal
Que não provoca reações
Que não diz nada
Que não tem significado
Que não se pode ouvir, tocar ou sentir
Que somente se permite...
Olhar.
Como se o olhar pudesse cumprir a função
Dos meus demais sentidos, que adormecem
Enquanto somente me restam:
O frio
O fastio
O vazio
Mas as pontas dos dedos, embora gélidas,
Conseguem ainda e com algum esforço,
suprir com palavras o que a voz cala:
Da não-resposta
Da falta
Da lacuna
Da saudade
Do não-sentido
Da escuridão
Da solidão-
Destes que, na noite vazia,
Ironicamente se tornam
minhas únicas companhias.


4 comentários:

A Desbocada disse...

Certa vez coloquei no orkut: "Certo silêncio é pertubador..."
Mesmo atendendo sua solicitação de não tentar entender, me arrisco a comparar que o sentimento das duas escritas é próximo.

Tenho em mim um poema sempre presente, mas sem talento nenhum de externa-lo. Admiro muito quem consegue.

Adorei o visual do blog! Ficou muito bonito!

Beijinhos!

Ivy F. disse...

Destes que, na noite vazia, ironicamente, se tornam minhas únicas companhias.

Eu suspirei aqui e vc traduziu aí. É seu? Ficou muito bom!! Triste, melancolico, realista, bem escrito e original.

Beijos!

Anônimo disse...

Tudo é passageiro. Tudo é vago. Nossos sentidos, de fato pereceram com o tempo, a nossa fonte maior de satisfação rotineira, se esgotará. E o que fica, depois? E o que contentará, então?
será somente o tédio e a melancolia?
Ou será que há algo que transcenda o tempo, o prazer e a dor?

Compartilho teus sentimentos, tuas inquisições. Não como quem sofre somente! Mas compartilho por que este mesmíssimo silencio que habita em ti, faz morada em mim , e neste segundo, não há nada no mundo, que distingua o que somos, e neste segundo a angútia se torna ternura.

Rafael Rosa disse...

Poesia estruturalista?
haha...muito bom.

--Não tente entender--
É modestia.

Go ahead.
Abração!
;)
apareça sempre que puder!