quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Dádiva


E se for um sonho
Penso que a vida
Decidiu me presentear
Com um sono profundo
Do qual não quero acordar.

Uma dádiva enviada
No momento mais oportuno
Como uma doce ironia
Pra me desarmar

- Pra me desarmar
De uma solidão
Aparente escolha,
Falsa opção -

E não há obstáculo
Capaz de inibir
Um coração idealista
Diante da magnitude
Do anjo turista
Que deixou de sê-lo
Para habitar,
Fazer moradia
Do meu ser, um lar
-Magnetismo-
E de repente
Não parece haver
O impossível.

E se essa luz é real
A deixo reluzir
Brilhar
Me guiar
Asas, pra que te quero
Não mais espero:
Vou com meu anjo voar.


Música: Hilf Mir Fliegen - Tokio Hotel 

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Escassa



Andei perdendo muitas coisas por aí
Quase me perdi de mim
Estou tentando me encontrar,
Recuperar o que perdi
Reunir forças
Não mais fingir
De verdadeira, só  essa tristeza
Inoportuna e sem fim
Que já é quase parte
Acho até que já nasceu comigo
Que hoje já não trago mais sorrisos
Pra te dar
Seja lá você quem for
que atravessar
A mesma rua
Por onde eu andar
E eu desejo a solidão, pra não doer
E eu só peço pra solidão não machucar
Andei deixando rastros por aí
Os quais já nem sei mais se quero
Que alguém se atreva a seguir
Está tudo morno, aqui
E já não há espaço
Pra mais nada além de mim
Acho que é melhor assim
Cheia do mais profundo vazio
Nada mais a oferecer
Além de um olhar sombrio
E o esboço de um sorriso
Feito um céu sem estrelas
Precedido de um dia frio.


Música: Resist ~ Rush  

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Renúncia e Despedida


Foi um desencontro
De informações
Falha na comunicação
Erro de interpretação
Foi um querer inventado
Muito bem encenado
Que foi desmascarado
E ficou no passado
-O fim: dito e aclamado.
Era apenas gentileza
Sem nenhuma certeza
E faltou destreza
Para decifrar
Foi um mal entendido
Hoje esclarecido
Quer ser esquecido
Precisa passar
Parecia real
Mas era banal
Parecia verdadeiro
Mas foi passageiro
E foi somente aparência
Faltou essência
Perdi a paciência
E foi fatal:
Após as vírgulas,
reticências,
e interrogações,
Os pingos nos 'is' ...
e ponto final.

Música: Outono em Porto Alegre- Engenheiros do Hawaii

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Chegada e Partida


Toda vez que vejo um trem partindo
Eu queria estar lá
Pra te encontrar.
Assim como desejo que você estivesse vindo
Cada vez que vejo um trem se aproximar.
Por vezes faltam palavras
Fica o silêncio, o espaço
Em branco no meio da tela
Mas sinto que é só um espaço
-Que no instante se revela-
Que o resto do corpo dá
Só pro coração falar
Direto ao outro e escutar
Pra que, durante o percurso
Possam se comunicar
Sem um atropelamento,
Livres de palavras vãs
Quando há no pensamento
Mais coragem pra expressar
O quanto dói
Quando um fica e o outro vai
Um da plataforma olha
O trem partir devagar
Outro da janela observa
Devolvendo o mesmo olhar
Jogam beijos e desejam
Entrar no mesmo vagão,
Pra não mais se despedir
Somente pra se encontrar
Permanecer, olhar juntos
Numa mesma direção
Sem rota de colisão
Sem fazer baldeação
Coração com coração.



Música: Mr. Big - Dancing Right Into The Flame


sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Dentro e Distante


E o doce veneno em teus lábios percorreu meu corpo
Adentrou mais do que deveria
Corre em minhas veias
Infiltrado no sangue da ferida aberta do meu coração
Independendo do meu querer
Passou a ser parte, virou arte, virou rima
Canção, poesia, nuvem que não se vai
E sinto em dizer isto a mim mesma,
Mas a culpa é minha- toda minha...
Que tenho a mania de plantar pessoas
No coração... pra que o tempo e as circunstâncias
Inevitavelmente as colham de mim.
E as raízes nunca ficam firmes...
E na metamorfose criam asas
E quase sempre voam pra longe
Longe demais pra vista alcançar
Longe demais pra que possam voltar
Longe demais...e só resta lembrar.


Música: HIM- Rip Out The Wings Of a Butterfly

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Fuga[z]


Queria te querer sem pensar em te perder
Ainda que meu querer não signifique ter
Porque não quero uma paixão que aprisiona
Também não quero me enredar numa prisão
Mas teu corpo me apetece
Teus trejeitos me enlouquecem
E por mais que eu me esforce em  ocultar
Talvez haja maior obviedade do que quero
Nas entrelinhas de cada tentativa de negar
Não sei como me interpretas
Aliás, nem sei se tentas
Mas não sabes que o silêncio
Não é bem afastamento
Visitar outros olhares
Não me traz satisfação 
Seu perfume se distingue
No meio da multidão
As palavras são um sim
Mas o tempo é um não
Pra mim.
Outros rostos, outros ares
Outros gestos, outros mares
Não tem graça desbravar
Não têm o mesmo mistério
Que encontrei no teu olhar.
Até tentei escapar
Mas caí na armadilha
Num descuido, num deslize,
Numa falta de atenção.
O pensamento é um sim
Mas a distância é um não
Pra mim.
O querer é um sim
Mas a circunstância é um não
Enfim.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Muito prazer,



Apresento minha face oculta:
Alma desnuda
Coração que pulsa
Dentro da armadura.

Peça vulnerável
Que a verdade corta
Que se faz  notável
E, se cedo ou tarde,
Já não mais importa.

Apresento um coração
Humano, visionário,
Verdadeiro...e otário.

Apresento uma pessoa...
Sim, uma "pessoa".
Não uma máquina.
Não um objeto.
Não manipulável.
Não descartável.
Apresento um coração
Que não se pode moldar
Que não sabe desprezar
Que não dá pra formatar
Que não aprendeu a deixar.

 Apresento um eu desconhecido
Um sensível enrustido
Que se encontra perdido
Que já devia ter esquecido.

Alguém que se arriscou
Que a si mesmo enganou
Que ainda assim, tentou
Que reconhece que errou.

Que se achou e se perdeu
Que falhou, mas aprendeu
E se por vezes se escondeu
Foi só porque se defendeu.



sexta-feira, 16 de julho de 2010

E o que me resta,


Olhar
Observar as coisas que não se movem
Ouvir somente o silêncio
Que, aparentemente inócuo, fere.
O tudo ao meu redor, que parece inerte.
Sem sentido, sem vida, como antigas fotografias
Já amareladas pelo tempo e que tudo que trazem consigo
É a mais cortante nostalgia-
A ausência.
Olhar
Saber que o tempo passa e tudo permanece igual
Estático, fosco, fatigante, normal
Que não provoca reações
Que não diz nada
Que não tem significado
Que não se pode ouvir, tocar ou sentir
Que somente se permite...
Olhar.
Como se o olhar pudesse cumprir a função
Dos meus demais sentidos, que adormecem
Enquanto somente me restam:
O frio
O fastio
O vazio
Mas as pontas dos dedos, embora gélidas,
Conseguem ainda e com algum esforço,
suprir com palavras o que a voz cala:
Da não-resposta
Da falta
Da lacuna
Da saudade
Do não-sentido
Da escuridão
Da solidão-
Destes que, na noite vazia,
Ironicamente se tornam
minhas únicas companhias.


quinta-feira, 1 de julho de 2010

Alheia


Não me peça pra entender a infâmia
de quem se alegra com o 'desafio' de um desprezo concedido.
Não me peça pra entender a estupidez por trás do orgulho
que por vezes eu também trago comigo.
Não me diga que tenho que aceitar
pois essa palavra não cabe nos meus anseios.
Não me diga que meus esforços não serão recompensados
Porque isso não fará com que eu deixe de tentar.
Ainda que o silêncio esteja fora da minha compreensão
Ainda que as respostas não estejam
ao alcance das minhas mãos
E muito embora deduções não sejam precisamente meus dons,
Eu continuo.
Se essas máscaras já não me servem, eu me desfaço.
Se o que desejo é evidente, eu não disfarço.
E ainda que me desfaça, serei forte.
Forte o suficiente pra retomar o caminho
e juntar os pedaços.
Só não ouse querer que eu enterre minha essência.
Não quero me igualar: eu não me adapto.Não me peça pra entender esse mundo mediano
Do qual eu sei que nunca fui parte,
Do qual desde sempre estive distante,
E no qual minhas partes jamais caberiam
Porque ele é limitado demais...